Foto: O júri com a realizadora que ganhou o prêmio Teddy de melhor curta-metragem (à esquerda, com o troféu) / Divulgação

por Luís Fernando Moura

Na cerimônia de encerramento do TEDDY Awards, na última sexta-feira, o júri TEDDY, de que fiz parte ao lado de mais 4 pessoas de diferentes continentes, decidiu unanimemente redigir e ler uma manifestação para denunciar a situação na Palestina, em Gaza, e questionar a posição das instituições no Ocidente e na Alemanha. Durante as entrevistas que demos no palco ao longo da cerimônia, um dos meus colegas chegou a comentar que as políticas globais têm muito a aprender com o histórico das políticas queer e seus sentidos abrangentes de liberação.

Eu, por outro lado, lembrei na cerimônia que um aprendizado “queer” no interior da indústria de cinema pode contribuir para mover também a indústria mesma, primeiro do ponto de vista artístico, político: interrogar as noções de global e local, as expectativas de olhares estrangeiros, as convicções sobre valores de produção. E então do ponto de vista econômico, desenvolvo aqui: podemos atuar dentro de plataformas europeias como a Berlinale através de pequenos gestos, de sinalização e troca, e doravante, tomados os vínculos que estabelecemos no mercado ou no festival, de movimentos coletivos que possam constituir redes transversais e se dirigir à sustentabilidade de um ecossistema ampliado, no qual nos correspondamos mais do que dependamos.

Em texto para este mesmo CCBA, minha colega Thaís Vidal, que atuou no European Film Market este ano, lembrou que, como players do sul no global, precisamos aprender a lidar com um ambiente, afinal, localizado, a Europa, que em vários sentidos dita a escala dos caminhos globais dos mercados do cinema independente, muitas vezes determinando as condições em que se espelham as possibilidades de criação. Creio que a participação de profissionais do sul em espaços como a Berlinale é substantiva não apenas para que saibamos como trilhar no mercado internacional, mas para que progressivamente possamos torná-lo mais saudável: ou seja, para que possamos instituir, pouco a pouco, novas zonas de equilíbrio econômico e simbólico.

Poderíamos, da Berlinale em direção ao futuro, ampliar as plataformas no sul através de pactos intrarregionais e transcontinentais alternativos, paralelos e correspondentes, no sentido de que não dependamos de territórios específicos para que fazer filmes seja sustentável. Podemos ver o que ocorreu em territórios como Índia, Argentina, Coreia do Sul, com políticas específicas, e além – o que se passa em acordos como Mercosul, ou Mercosul/União Europeia, CPLP, Brics: será oportuno, como comunidade produtora de cinema, que ensinemos ao Estado e às instâncias de convivência colaborativa entre Estados e regiões o que é necessário e possível para que o cinema que desejamos seja viabilizado como atividade expressiva e econômica, tendo em vista a possibilidade de fazer filmes como manifestação artística e a garantia de ambientes de circulação plurais, de aprendizados mútuos e para outras geografias.