Curt Nimuendajú nos jardins do Museu Nacional, em 1913. Foto: Acervo

Pesquisador de origem alemã dedicou mais de quatro décadas à etnologia indígena no Brasil. Programação da mostra inclui lançamentos, oficina e mostra de filmes

Curt Nimuendajú nos jardins do Museu Nacional, em 1913. Foto: Acervo O jovem Curt Unckel (1883-1945) migrou da Alemanha para o Brasil aos 20 anos e, não muito tempo depois de chegar ao País, decidiu viver entre os Apapocuva-Guarani na região do Rio Batalha (SP). Durante um ritual naquela aldeia, recebeu o nome que passou a utilizar na trajetória de pesquisador que iniciava de maneira autodidata: Nimuendajú – “aquele que veio a sentar (entre nós)”. Essas e outras passagens da vida do antropólogo são contadas na exposição Curt Nimuendajú – Reconhecimentos, que será inaugurada na quinta-feira (28/3), às 19h30, no Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA). O evento é aberto ao público, com entrada gratuita.

Na sexta-feira (29/3), representantes de povos indígenas de Pernambuco se reúnem para trocar experiências em uma oficina na sede do CCBA. Esse é o único evento fechado na programação da mostra. No sábado (30/3), às 18h30, o espaço cultural sedia a mostra audiovisual Povos Indígenas no Cinema: filmes & debate.

“Mais de quatro décadas dedicadas à etnologia indígena, com pelo menos 34 pesquisas de campo majoritariamente pioneiras sobre mais de 50 etnias e um grande número de publicações, renderam a Curt Nimuendajú, ainda em vida, o reconhecimento como uma das maiores autoridades da Etnologia dos povos indígenas no Brasil na primeira metade do século 20”, afirma o professor Peter Schröder, curador da mostra e docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Na noite de abertura da exposição, Peter Schröder lança o livro Os Índios Xipaya – cultura e língua (Editora Curt Nimuendajú). Para a obra, ele traduziu cinco textos de Curt Nimuendajú que foram originalmente publicados no periódico Anthropos, de 1919 a 1929. “É a primeira vez que o conjunto desses artigos é apresentado em língua portuguesa numa edição crítica, junto com uma introdução que contextualiza a história e o estilo dos textos. Trata-se de trabalhos clássicos da antropologia sul-americana, caracterizados pela influência, ainda predominante, da etnologia alemã”, explica Peter Schröder.

Sobre as contribuições de Curt Nimuendajú para a antropologia brasileira, o professor avalia: “Ele é visto como uma figura pioneira para a formação da etnologia indígena. Apesar do fato de que os textos dele hoje em dia exigem uma reavaliação crítica de seus pressupostos teóricos, muitas vezes implícitos, a qualidade de suas etnografias ou de obras como o Mapa Etno-Histórico não é questionada. Pelo contrário, ele continua sendo um autor muito citado. O fato de ele ter sido autodidata mostra como as práticas científicas mudaram”.

O Mapa Etno-Histórico do Brasil e Regiões Adjacentes ganhou uma nova edição em 2017, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e será tema de um encontro aberto ao público, na terça-feira (7/5), como parte da programação da mostra Curt Nimuendajú – Reconhecimentos. Um dos originais foi destruído no incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro, assim como grande parte do material produzido pelo pesquisador, pois o espólio dele foi adquirido pela instituição e nem tudo havia sido digitalizado. Os demais pertencem aos acervos da Smithsonian Institution (Washington, EUA), do Museu do Estado de Pernambuco e do Museu Paraense Emílio Goeldi.  O mapa elaborado artesanalmente foi inscrito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Programa Memória do Mundo. Ele é um dos 12 temas selecionados pelo professor Peter Schröder para apresentar o trabalho do antropólogo alemão em uma mostra conectada ao Brasil contemporâneo.

“Em certo sentido, Nimuendajú e seu interesse pela diversidade social e cultural indígena, seus esforços de levantar informações sobre línguas indígenas, mesmo de forma fragmentária, continua atual, sobretudo numa sociedade que ainda tem grandes dificuldades de aceitar diferenças sociais e culturais. E isto torna-se ainda mais evidente no atual cenário político com suas polarizações e manifestações explícitas de intolerâncias e preconceitos”, compara o professor.

A exposição é uma realização do Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA), do Laboratório de Estudos Avançados de Cultura Contemporânea (LEC) / Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA-UFPE) e do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (DAM-UFPE), com apoio do Goethe Institut, Editora Curt Nimuendajú, Staatliche Kunstsammlungen Dresden, Museum für Völkerkunde Dresden, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Museu Nacional,  Museu do Estado de Pernambuco e  Anaya Produções Culturais.  

PROGRAMAÇÃO

EXPOSIÇÃO CURT NIMUENDAJÚ  – RECONHECIMENTOS 

  • Abertura: Quinta-feira (28/3), às 19h30, com o lançamento do livro Os Índios Xipaya – cultura e língua (organizado por Peter Schröder).
  • Visitação: De segunda a quinta-feira, das 10h às 12h e das 15h às 20h. Sábado, das 10h às 14h. Até 11/5.
  • Entrada gratuita. Escolas podem agendar visitas guiadas.

OFICINA POVOS INDÍGENAS EM PERNAMBUCO NO CENÁRIO ATUAL

Sexta-feira (29/3), das 9h às 16h30. Evento fechado para convidados. 

MOSTRA POVOS INDÍGENAS NO CINEMA: FILMES & DEBATE

Sábado (30/3), às 18h30. Entrada gratuita. 

LANÇAMENTO DA NOVA EDIÇÃO DO MAPA ETNO-HISTÓRICO DO BRASIL E REGIÕES ADJACENTES

Terça-feira (7/5). Entrada gratuita. Confira as novidades na página da exposição Curt Nimuendajú – Reconhecimentos