Doze livros foram sorteados entre os participantes do Kulturforum (Foto: Lara Ximenes)

A artista visual contou, na última edição do Kulturforum, os bastidores do seu livro “Ao Futuro Possível Fictício Antigo Morador da Casa. Como Convém”

Discussões acerca do corpo, da arte urbana, da performance e de como estes estão inseridos na cidade marcaram a última edição do Kulturforum, na segunda-feira, 05 de setembro de 2016.

Além do debate com o Laboratório de Performance Urbana (LAPU) do CCBA sobre os limites e definições da dança versus a performance, a artista visual Priscila Gonzaga apresentou o livro “Ao Futuro Possível Provável Fictício Antigo Morador da Casa. Como Convém”, que também foi sua tese de mestrado em design editorial feita em Zurique, na Universidade Zürcher Hochschule der Künste, em 2012.

O livro relata impressões sobre a cidade através da vivência das cinco pessoas que moraram na Casa. Como Convém, que de 2007 a 2016 teve três endereços – no Poço da Panela, em Casa Forte e no Edifício Pernambuco, no centro da cidade. “A proposta desse projeto era como fazer um catálogo de arte andando por outros gêneros de livros e editoriais, como o dicionário, o guia, o livro de receita”, conta Priscila. “Fiz um estudo desses tipos editoriais e apliquei no livro para falar do projeto que vivi aqui em Recife, a Casa. Como Convém, que era o lugar onde eu morava com meus amigos que também são artistas”, lembra Priscila, que conheceu a maioria desses artistas na faculdade.

O livro, que vem com um mapa da cidade do Recife impresso em tecido, embalando-o, tem sua primeira parte inspirada em livros de arquitetura. A segunda é um giro pela cidade do Recife inspirado em guia turístico, e a terceira é em catálogo. “Na parte de catalogo, por exemplo, tento organizar o livro em si e a história da gente, mostrando as pessoas e as páginas. Cada uma dessas coisas tem a ver com o jeito que a gente usava a cidade e como ela nos influenciava”, explica Priscila.

Uma das razões do livro existir é porque o grupo iria se desfazer a qualquer momento. Assim, parte do livro conta onde o grupo morava, o que tinha na cidade, quais eram os deslocamentos que eles faziam. Agora, em 2016, o grupo realmente se separou – cada um está em um lugar diferente. “O livro era justamente esse guia para quem fosse morar na nossa casa quando a gente não estivesse lá”, frisou a artista. Ela começou a pensar no livro em 2008, mas só o publicou em 2014 , quando pôde debruçar-se no projeto a partir do mestrado em 2012. “Ao Futuro Possível Fictício Antigo Morador da Casa. Como Convém” foi lançado em Recife no evento “Sobe Aí”, do Edf.Pernambuco.

Na direita, Priscila conta aos participantes do Kulturforum como a cidade estava circunscrita ao seu projeto (Foto: Lara Ximenes)

Conexões Urbanas – Além do mapa de pano que reveste o livro, três Recifes completamente diferentes são explorados no projeto: o Recife do mar, dos rios e dos morros.  Buscando traduzir experiências subjetivas em formatos mais objetivos, o livro tem um mapa de Recife a partir do mofo, e o reflexo disso nas construções. Um guia do suor, mostrando quanto você sua no trajeto Casa Amarela até o centro da cidade a depender da hora e do transporte. Tem também, entre outros, o mapa da “água braba”, que mostra relação hostil de Recife com a água, mesmo sendo uma cidade rodeada por rios e mares. “A incidência de mosquitos, tubarão, poluição nos rios e maresia fazem com que a gente não se conecte verdadeiramente com a água ao redor da cidade, como eu via as pessoas fazendo em Zurique: mesmo frio, todos tomavam banho de rio, que era limpo, ou frequentavam piscinas públicas”, relatou Priscila no Kulturforum.

Um pouco mais sobre a artista  Priscila é formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Pernambuco (2008) e vive e trabalha como editora gráfica no bairro da Boa Vista. Mantém a Editora—Aplicação, que desenvolve projetos gráficos e contribui para publicações independentes. Desenvolveu projetos editoriais com artistas, como Marcelo Silveira (Manual dos Manuais), Silvan Kälin (O Mundo Cultura e Natureza em Lagoa do Ouro), Cristiano Lenhardt (A Dobra do Raciocínio Geométrico) e Jonathas de Andrade (Museu do Homem do Nordeste).