Texto: Marina Mahmood | Foto: Bella Schneider / Divulgação
Através de sua programação gratuita, o Mercado Europeu estimula uma conexão cultural, criativa e gastronômica com a cultura europeia e com grandes centros de línguas no Recife
A cantora Bella Schneider, ex-participante do programa The Voice Brasil, recentemente nomeada com o título de “Cantora Pop do Ano” (prêmio da Música de Pernambuco), realiza pocket show dentro da programação do Mercado Europeu, que acontece na Aliança Francesa do Recife, no próximo sábado (10 de maio), a partir das 14h30.
O Mercado Europeu estimula uma conexão cultural, criativa e gastronômica com a cultura europeia e com grandes centros de línguas no Recife. Trazendo uma programação inteiramente gratuita, o evento conta com: feira cultural, oficinas de vinhos, shows e dança ao vivo, oficina de ilustração para crianças, oficina Sons da Bélgica (viagem pela música de hoje), vivência artística para crianças, além de aulas experimentais de francês, espanhol, alemã e italiano (para níveis iniciantes). O evento é realizado pela Aliança Francesa Recife, em parceria com o Instituto Cervantes Recife @institutocervantesrecife, com a escola Dante Alighieri Recife @danterecife e com o Centro Cultural Brasil Alemanha Recife @ccbarecife.
A programação do evento vai das 14h30 da tarde até às 19h30 da noite e o show de Bella está previsto para acontecer logo no início da programação (por volta das 15h). A cantora criou um estilo musical próprio, apelidado de “Popzeira”, no qual o pop se fundiu a outros gêneros musicais.
CONFIRA A ENTREVISTA COM A CANTORA BELLA SCHNEIDER:
1 – Me fala um pouco sobre o seu trabalho com a música, como surgiu e o que te motiva a trabalhar na área?
Na verdade, a música iniciou para mim emocionalmente desde sempre. Porque tanto a minha mãe quanto o meu pai sempre gostaram muito de música, apesar de nenhum deles ter seguido carreira musical. Minha avó alemã também cantava na igreja, na Alemanha, minha bisavó brasileira cantava por aqui, assim de passatempo (tocava piano, violão). Eu sempre gostei de vários estilos musicais, desde pequena, então eu escutava de MPB à música clássica, música celta, maracatu, manguebeat, frevo. Uma mistura, digamos assim, das duas culturas. Minha mãe sempre apoiou bastante a questão do canto, desde a infância, e não só o canto, mas tudo o que é ligado à arte. Também fiz várias danças, desde ballet à dança do ventre, dança de salão, hip hop (que eu até estudei por muito mais tempo, cheguei a ser professora substituta na Alemanha por um período). Então, basicamente, eu fui estudando desde cedo (desde os 7 anos), principalmente mais focada no teclado e canto.
Aí depois fui diminuindo a quantidade de coisas e focando mais na questão do canto, tentando dar mais atenção a isso, tanto porque eu gostava e também porque as pessoas falavam que eu tinha talento para isso. Foi dessa forma também que consegui bolsa numa academia em que eu já fazia ballet e eles me deram uma bolsa para o coral porque eu me tornei a primeira voz do coral (isso com 11 anos).
As coisas foram acontecendo gradualmente, basicamente dessa forma, já nessa apresentação com 11 anos foi o momento em que eu me apaixonei por música de uma forma mais consciente (pensando, “É isso que eu quero para a minha vida”), por conta justamente dessa apresentação que aconteceu no teatro, ver o público ali, todo mundo vibrando, uma troca de energia incrível, me marcou muito. Com 14 anos, eu já estava fazendo shows, em eventos como a Fliporto, mas oficialmente comecei minha carreira aos 17 anos.
2 – Dos seus trabalhos lançados, qual é o que você mais gosta? Me conta o porquê.
Acho que, dos meus trabalhos, o que eu mais gosto é o álbum “ELA”. Porque eu consegui fazer uma superprodução, digamos assim, em colaboração com o meu produtor musical.
Nesse álbum, eu consegui expandir para todos os temas que gosto de trazer, como, por exemplo, relacionamentos abusivos, ressurgir das cinzas, ou seja, superar a depressão, sobre a sociedade líquida, sobre feminismo e empoderamento. Inclusive, nesse tema do feminismo, o que dá ao álbum o nome “ELA”, é, na verdade, sobre o feminino de todo ser humano. Sobre como, na verdade, todos temos um lado que é tão importante nutrir, sabe? E o quanto é importante valorizar as mulheres e o quanto é importante as mulheres terem noção de seu valor.
Gosto demais desse álbum justamente por causa disso, porque ele é o encontro desde uma grande produção musical que fico extremamente satisfeita com todo mundo que está presente nesse álbum, tiveram muitos músicos daqui de Recife, outros do Brasil todo, teve gente de pós-produção de mixagem e máster tanto de Brasília como da Holanda, dos Estados Unidos, tiveram grandes ganhadores de Grammy que tive a honra em trabalhar com eles, pessoas que fazem projetos de Beyoncé, Justin Bieber, Marina Sena, enfim, toda essa galera trabalhou comigo e eu fico muito feliz mesmo porque são pessoas super humildes e que realmente me enxergaram pelo talento e pela qualidade das músicas. Não se importaram com o fato de eu não ser uma pessoa super famosa, eu admiro muito quem tem esse tipo de valorização, sabe. Que enxerga a essência do outro. Que ironicamente é o que falo no meu último EP, o “SER”, que também foi apoiado pelo Centro Cultural Brasil Alemanha. Ele já é mais simples, mais cru, porque ele é voz e violão, tem inclusive música em alemão que escrevi pensando em minha avó alemã: uma pessoa que nasceu na Segunda Guerra Mundial e foi mãe solteira, passou por vários julgamentos ali nos anos 60/70 numa Alemanha pós-guerra, com dois filhos homens e ela revolucionou a cidade, se tornou não apenas política (porque ela se tornou vereadora), mas ela foi tudo o que ela pôde para conseguir estruturar não só a vida dela, mas da família (enquanto era julgada de várias formas).
3 – Quais são as suas principais inspirações musicais e artísticas no geral?
Acho que posso citar Amy Winehouse, Selena Quintanilla, Elis Regina (porque afrontou muita coisa aqui numa época que foi muito importante) e a IZA porque ela é extremamente talentosa e tem muitas músicas com temas relevantes como gosto e, ao mesmo tempo, é um pop dançante, trazendo visuais bonitos, então gosto bastante dessa complexidade, quando você tem uma coisa que realmente impacta na vida do seu público, de forma construtiva e positiva e, ao mesmo tempo, você não deixar de ser você, isso é muito difícil como cantora, é muito difícil você não se trair, porque o mundo estimula que você se encaixe no que ele quer. Para mim, eu nunca consegui me encaixar em lugar nenhum, pelo contrário, a gente vai tentando ser fiel a nós mesmas, assim como ser aceita de alguma forma e impactar de formas positivas.
4 – Me fala um pouco sobre sua parceria com o CCBA, como surgiu e como se desenvolveu. E também sobre o show do sábado no Mercado Europeu, o que podemos esperar?
Essa parceria com o CCBA é uma das coisas que eu mais tenho carinho, tanto por aqui quanto por essa ligação de poder reconectar com a Alemanha (mesmo estando aqui no Brasil). Começou desde que conheci Christoph, que já faz muito tempo, com o meu pai que já o conhecia. Depois, acabei estudando alemão no CCBA para poder fazer testes para comprovar meu nível de alemão, para conseguir a minha cidadania alemã. Então, eles foram muito apoiadores nesse meu processo pessoal, assim como no meu lado musical, de também dar espaço para que eu pudesse cantar músicas também em alemão. Aqui em Recife, o único lugar em que faço show em alemão é lá.
Então, fico muito feliz de poder levar esse outro lado de mim. Que aqui eu simplesmente abafo, né? Ninguém aqui vai querer escutar normalmente música em alemão. Às vezes, eu até canto uma música minha que é em alemão, mas é um processo para o público recifense aceitar. Eu gosto, na verdade, de ver a beleza em qualquer etnia, em qualquer idioma, seja lá onde a gente estiver. Acho que música é justamente isso, é uma linguagem universal. Não interessa a língua com que você está cantando. E justamente nesse show de sábado, já que é no Mercado Europeu, envolvido também com a Aliança Francesa e, inclusive, o meu namorado e celista (Eugene Lamy), ele vai tocar também algumas músicas conosco do nosso projeto. E tem o meu músico, o Luca, que está sempre fazendo shows acústicos. Então, a gente vai trazer músicas em português, inglês, alemão, espanhol, francês, italiano, uma misturinha bem europeia. Óbvio que vai ter um pouquinho mais de alemão, mas espero que todo mundo goste bastante porque é um show que dá para colocar algumas coisas (que, como falei, nem sempre posso), fico feliz com essa oportunidade, mesmo que seja um show um pouquinho curto.