CCBA exibe filmes com temas indígenas na exposição sobre Nimuendajú

Os documentários Muita Terra Para Pouco Índio e Yoonahle são exibidos sábado (30/3), no Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA), como atrações da Mostra Povos Indígenas no Cinema: Filmes & Debate. A sessão tem início às 18h30 e é uma das atividades da exposição Curt Nimuendajú – Reconhecimentos. A entrada gratuita.

Após a exibição dos filmes, o público pode participar de um debate com o professor Peter Schröder (UFPE), curador da exposição que fica em cartaz no CCBA até o dia 11 de maio. Antes dos documentários, será apresentado um teaser do longa-metragem de animação Nimuendajú, dirigido por Tania Anaya.

Na obra, em fase de produção, a animação é feita sobre uma base filmada, na qual Curt Nimuendajú é interpretado pelo ator alemão Peter Ketnath – de Cinemas, Aspirinas e Urubus (2005).

Os povos indígenas Apinayé, Canela e Guarani participam do projeto, que é uma coprodução da Anaya (MG), Cine Zebra (ALE) e Promenades Films (França).

Povos Indígenas no Cinema

Muita Terra Para Pouco Índio?

Sinopse: O filme corresponde a uma tentativa de apresentar, do mundo mais claro e didático, a diversidade da vida dos povos indígenas e suas terras no Brasil, e demonstrar, apoiando-se em dados, depoimentos e imagens, os argumentos que são usualmente utilizados contra a materialização dos direitos indígenas, atacando o preconceito e os estereótipos que emperram a formulação e desempenho de uma política indigenísta afirmativa, e dificultado a garantia dos direitos estabelecidos pela Constituição de 1988.

Direção: Bruno Pacheco de Oliveira
Roteiro: João Pacheco de Oliveira
Realizador: Associação Brasileira de Antropologia


Yoonahle, A palavra dos Fulni-ô


Sinopse: Face à proximidade com a cidade e ao assédio do homem “branco”, os Fulni-ô apresentam a sua forma de viver em dois mundos, resistindo na manutenção da língua, da cultura e de seus segredos ancestrais.

Direção: Coletivo Fulni-ô de Cinema

Confira a programação completa da exposição Curt Nimuendajú – Reconhecimentos.

Peter Schröder fala sobre o antropólogo Curt Nimuendajú e o incêndio no Museu Nacional

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O antropólogo Curt Nimuendajú (1883-1945), de origem alemã e nacionalidade brasileira, desenvolveu ao longo de vários anos uma relevante pesquisa sobre diversos povos indígenas. “Ele continua sendo considerado uma das referências mais importantes na etnologia dos povos indígenas no Brasil”, destaca o antropólogo Peter Schröder, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), parceiro do Centro Cultural-Brasil Alemanha (CCBA) na realização do projeto Curt Nimuendajú – Reconhecimentos.

Ainda sobre as contribuições de Curt Nimuendajú para a antropologia
brasileira, o professor Peter Schröder afirma: “Mais de quatro décadas
dedicadas à etnologia indígena, com pelo menos 34 pesquisas de campo, majoritariamente pioneiras, entre mais de 50 etnias indígenas e um grande número de publicações, em parte lançadas apenas post mortem, sobre temas de Etnologia, Linguística e Arqueologia indígena, além de volumosa correspondência com os mais diversos especialistas em temas indígenas de vários países, renderam a Nimuendajú, ainda em vida, o reconhecimento como uma das maiores autoridades da Etnologia dos povos indígenas no Brasil na primeira metade do século XX e, segundo alguns autores, como sendo a maior durante todo esse período. Várias monografias tornaram-se clássicos da etnologia indígena devido aos valiosos registros etnográficos como, por exemplo, aquelas sobre os Apinayé, Xerente, Timbira ou Ticuna”.

Museu Nacional

Uma parte valiosa do legado do etnólogo foi destruída no incêndio que atingiu o Museu Nacional (Rio de Janeiro) em setembro de 2018. O espólio do pesquisador foi adquirido pelo museu após uma longa negociação com a viúva do pesquisador, que se estendeu de 1946 a 1951. “Tratava-se de um conjunto muito heterogêneo de documentos: cartas, manuscritos originais de textos publicados, manuscritos não publicados, diários de campo, fotografias. Ou seja, documentos muito valiosos para a história da antropologia no Brasil na primeira metade do século 20. O incêndio destruiu a maioria dos materiais”, explica Peter Schröder.

“Trata-se de uma perda trágica, algo inaceitável. Apenas uma parte do espólio foi digitalizada antes do incêndio, sobretudo as fotografias. E alguns pesquisadores tinham tirado fotos de documentos avulsos, o que pode contribuir para recompor pelo menos uma parte do acervo. No entanto, a maior parte do espólio deve ser considerada perdida para sempre”, continua o pesquisador, que faz um alerta: “Infelizmente, o Museu Nacional não era e nem é o único museu com problemas estruturais e de segurança neste país. Pelo contrário, ainda há muitos. E tragédias parecidas podem se repetir a qualquer dia. O Museu Nacional, no entanto, não só tinha coleções extraordinárias, mas também um valor simbólico enorme no cenário nacional e internacional”.