Pensar a Economia Solidária (ES) e sua realização no mundo apresenta desafios teóricos e práticos a quem está na linha de frente de empreendimentos sociais e solidários, assim como para quem está na academia. As dificuldades enfrentadas são semelhantes na Alemanha e no Brasil: a incerteza do que significa a Economia Solidária e a diversidade de práticas associadas à ideia e a transformação em negócios convencionais à medida que o crescimento dos empreendimentos os afasta dos princípios da ES. O debate abriu a Semana Social & Solidária e Sustentável, no dia 20 da outubro, que segue até o dia 24.

Para pesquisador e filósofo alemão Dr. Bastian Ronge, da Universidade Humboldt de Berlim, por exemplo, que a não existência de um conceito bem definido do que é a Economia Solidária não é, ao contrário do que se possa imaginar algo negativo. “Se economia solidaria significa uma ruptura radical com uma forma de vida, então precisamos criar uma nova compreensão”, afirma o pesquisador.

Então, é interessante observar que nesse cenário a construção de princípios da Economia Solidária a partir da negação do sistema econômico capitalista não é a melhor das estratégias. “Devemos nos livrar das imagens clássicas da economia, sobre as práticas econômicas”, completa.

Segundo Bastian, é importante frisar a diferença entre os cenários brasileiro e alemão. Segundo ele, as iniciativas em ES na Alemanha tem um histórico de fracasso que foi creditado muitas vezes a uma agência individual de pessoas que não estariam preparadas para conduzir tais experiências ou por o que chamou de “influência corruptora do capitalismo”.

Formas de vida e Economia Solidária

Para superar os desafios teóricos e práticos, Bastian acena para o conceito de formas de vida (Wittgenstein) como um caminho para compreender do que se trata a Economia Solidária.

As formas de vida seriam possíveis de serem identificados através de jogos de linguagem, por exemplo. Então, ao analisar os jogos de linguagem – que incluem tanto a fala como estruturas não verbais – se teria acesso a um conjunto de elementos que caracterizam tal forma de vida. No entanto, segundo o professor, só é possível entender o jogo quando você está dentro dele, quando você o está jogando.

Essa tese ajudaria a entender o porquê de ser tão difícil conceituar a Economia Solidária. A exploração filosófica, então, pode consiste em analisar quais são os jogos de linguagem e formas de vida nas experiências de Economia Solidária – “para uma filosofia da economia solidaria que ainda não existe, mas não no sentido de ter uma teoria, mas de ter uma compreensão”, explicou.