Semana de Economia Social & Solidária & Sustentável

20 a 24/10/2015 - Recife/PE - no Centro Cultural Brasil – Alemanha (CCBA)

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Hortas e jardins se tornam espaço de compartilhamento em Berlim

Na mesa, café, chá, frutas e um bolo de maçãs saído do forno. Ao redor dela, pessoas conversam e dividem os alimentos. O cenário é um jardim localizado em uma rua movimentada de Kreuzberg, que garante aos moradores da cidade o privilégio de ter contato com a terra, cultivá-la e colher os seu frutos, quando a natureza finalizar o seu trabalho. Mais ainda, propicia o contato com os vizinhos e a família. Em Berlim é cada vez mais frequente a criação de jardins coletivos, que se tornam um grande projeto de engajamento comunitário.

Aqui, o interesse é ocupar a cidade, disponibilizá-la a seus moradores. “A jardinagem não é o único objetivo: as pessoas querem trocar conhecimento umas com as outras, aprender coisas novas. É um projeto social, uma tarefa em que cada um é responsável por uma parte, todos devem contribuir. Isso é muito enriquecedor”, comenta Hanz Bauer, um dos responsáveis pelo Ton Steine Gärten. Cerca de 50 pessoas dividem esse espaço de cerca de 1.000 metros quadrados, e há ainda uma lista de espera.

É preciso também que se diga que nem tudo são flores. O Ton Steine Gärten, como muitos outros, é completamente aberto ao público. Muitas vezes, uma plantação de abobrinha ou de tomate cultivada semanas a fio desaparece sem deixar vestígios, deixando a pessoa que se dedicou a ela sem o fruto do seu trabalho. “Acontece. Somos também um projeto social, então prefiro pensar que talvez essa pessoa precisasse muito da comida. Mas claro, é desapontador”, pontua Hanz.

Perto, no Bunte Beete, crianças recebem dos pais as primeiras lições de como cultivar a terra. Aproveitam o contato com a natureza, fazem amigos. Anne Barbara, uma das organizadoras do jardim conta que, para quem tem família e filhos pequenos, o espaço é especialmente interessante. O lado difícil é que, como quase todo projeto coletivo, existem discordâncias: “Alguns trabalham pouco e outros trabalham muito. Mesmo assim, é recompensador ter acesso a uma horta dentro de Berlim”.

Voluntária em um jardim localizado nas proximidades da Warschauer Straße, Swantye Reuter ressalta que, ao mesmo tempo que se sente orgulhosa pelo bom trabalho e pelos elogios dos visitantes, eventualmente também se decepciona pela falta de cuidado de alguns, que pisoteiam os vegetais ou trazem animais que causam danos. Sob um pé de pêssegos e rodeada de ervas como lavanda e alecrim, ela explica que tudo é plantado em bases de madeira, já que o solo na área é contaminado por metais pesados como alumínio e chumbo. “A terra que usamos vem de fora daqui, para que possamos consumir os que plantamos. No caso das árvores é mais complicado, já que as raízes alcançam o solo”.

O mesmo acontece no jardim que fica no Tempelhofer Feld. No antigo aeroporto, não é permitido plantar diretamente no solo, mas sim em caixas de madeira – ou onde mais a imaginação permitir. Cerca de 25 pessoas dividem a tarefa de manter as plantas em forma. Alguns cuidam do cultivo, outros fazem a compostagem para garantir uma terra de boa qualidade para as plantações. Cerca de quatro vezes por ano, fazem um grande encontro para estabelecer vínculos e comemorar os resultados, que alegram também a vista dos frequentadores de um dos maiores espaços públicos de Berlim.

Solikon – O tour de bicicleta “Gemeinschaftsgärten als neue Allmenden” (Jardins coletivos como novos espaços comunitários) foi uma das atividades da Wandelwoche (Semana de Transformação) do Kongress Solidarische Ökonomie und Transformation Berlin, cuja cobertura especial está sendo divulgada no site do CCBA.

As portas abertas do Kubiz

A casa é grande e nela cabe muita gente – e boas ideias. É em uma construção centenária que já foi uma escola e que fica perto de um dos lagos mais conhecidos da capital alemã que funciona o Kubiz, uma iniciativa de educação e cultura que congrega mais de 15 projetos sociais em suas espaçosas salas. A ideia surgiu no começo dos anos 2000, quando um grupo de pessoas resolveu aproveitar o espaço para torná-lo uma área democrática de acesso a educação e lazer, como alternativa ao estabelecimento de mais um empreendimento comercial na vizinhança.

“Queremos ser uma possibilidade para as pessoas do leste de Berlim e, especialmente, para os jovens. A nossa vizinhança está assentada em  uma área em que a maioria das pessoas têm uma ideologia conservadora. Aqui, eles têm a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre ideias antifascistas, antinazistas, antirracistas e democráticas”, explica um dos responsáveis pelo centro de cultura, Thorsten Lampe.  Ele conta que a tarefa não é fácil, mas necessária.

Em um passeio, é possível conhecer as antigas salas de aulas, que antes davam lugar a um modelo tradicional de ensino e agora são ocupadas  por grupos de ensino e produção de mídia alternativa, programas de educação, troca de experiências, teatro, biblioteca, cinema, uma área para ajudar pessoas a consertarem as suas bicicletas, uma loja de produtos usados que podem levados por qualquer pessoa, entre vários outros. As salas são alugadas aos grupos por um valor abaixo do praticado pela política imobiliária de Berlim. Mesmo assim, a quantia pode variar, dependendo das condições financeiras de cada um.

O quintal ao redor  garante uma pequena produção de vegetais ogânicos. Esses, mais alguns alimentos que são doados por supermercados próximos, abastecem uma cozinha comunitária. Tudo isso acontece em um modelo que desafia o conceito tradicional de hierarquia, já que não há uma gestão centralizada: todas as decisões são tomadas por um fórum composto pelos grupos que ocupam o Kubiz. Cooperaçao, ajuda mútua, partilha de recursos e intercâmbio de conhecimentos e experiências são a base do projeto.

A sobrevivência financeiras não é dos assuntos mais fáceis. Thorsten relata que o caixa do Kubiz – que é composto por doações dos participantes, visitantes e colaboradores – nunca chega exatamente no valor que eles precisam para pagar todas as necessidades. No entanto, os integrantes se desdobram para manter a estrutura funcionando, fazendo pequenos consertos e assumindo a manutenção. Mesmo com todas as dificuldades, as pessoas que fazem parte do Kubiz não pensam em desistir dele. “Este prédio nos foi doado temporariamente e temos mais dez anos até que essa condição seja reavaliada. Esperamos engajar a vizinhança em nossa causa e conseguir doações para adquirir ou alugar a casa e garantir que este continue sendo um espaço onde boas ideias e a democracia encontrem a liberdade”,  conta Thorsten. A visita ao Kubiz foi uma das atividades da Wandelwoche (Semana de Transformação) do Kongress Solidarische Ökonomie und Transformation Berlin, que terá cobertura especial no site do CCBA.

Mais informações: http://solikon2015.org/de

 

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